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A cidade que ainda respira.

  • Writer: Leandro Matias
    Leandro Matias
  • Oct 14
  • 3 min read

Updated: Oct 15

Um diálogo entre a visão de Jane Jacobs e a prática viva das avenidas Campos Sales e Rodrigues Alves.


“As cidades não morrem quando envelhecem. Morrem quando se esvaziam de sentido.”


Essa é a provocação feita por Jane Jacobs, jornalista, ativista e pensadora que alterou para sempre o modo como compreendemos o fenômeno urbano.



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Em A Morte e a Vida das Grandes Cidades (1961), Jacobs rompeu com o urbanismo mecanicista do pós-guerra e devolveu à rua sua função original: ser o palco da convivência.


O verdadeiro urbanismo, ela dizia, “não se mede por metros erguidos, mas pela vitalidade que um espaço consegue sustentar.”


E é a partir dessa lente, de quem entendia o espaço como organismo vivo, que podemos olhar para Natal.


Há algo “silenciosamente simbólico” em perceber como uma cidade de traço litorâneo e vocação solar, parece hoje menos vivida do que poderia ser. O medo, o calor, o carro e a pressa substituíram a experiência da rua; e o que era convivência, virou travessia. Jacobs diria que isso acontece quando o espaço deixa de convidar o corpo. Quando o térreo se fecha, o pedestre desaparece, e o bairro perde a própria função social. Em vez de cenário de encontros, o urbano se torna um corredor privado a céu aberto.


Mas, curiosamente, algumas áreas de Tirol e Petrópolis ainda resistem a esse “apagamento", se assim podemos dizer.


Nesses dois bairros, e sobretudo no eixo das avenidas Campos Sales e Rodrigues Alves, sobrevive algo mais próximo do que podemos entender como uma “vida pública saudável”: o ritmo das calçadas, a alternância entre usos e a legibilidade das esquinas. 


A arquitetura ali não é heróica nem monumental; é civilizada. E essa civilidade, que parece banal, é exatamente o que falta a tantas cidades: a capacidade de acolher a vida sem precisar encená-la. As fachadas conversam, os recuos respiram, as copas filtram a luz, o vento atravessa o espaço. Nada é espetacular e é justamente isso que o torna exemplar.


O segredo, claro, está na origem. Esses bairros nasceram de um tempo em que o urbanismo tinha seu foco na relação entre forma e vida; quando se desenhava cidade pensando em luz, ventilação e convivência.


O Plano Polidrelli, no início do século XX, e mais tarde o Plano Palumbo, nas décadas de 1920 e 1930, imaginaram a expansão de Natal para além da Cidade Alta, estruturando uma nova frente urbana marcada por avenidas largas, quadras proporcionais e arborização constante. Os corredores da Campos Sales e Rodrigues Alves são herdeiros diretos desse pensamento: traçados concebidos com método, e não como consequência do crescimento. 


É curioso perceber como, mesmo sem o aparato técnico dos tempos atuais, esses planos compreendiam algo essencial: que a vitalidade urbana depende, antes de tudo, de escala e coerência.


Enquanto a verticalização recente tenta trazer novas camadas a bairros antes preteridos por um Plano Diretor defasado, Tirol e Petrópolis preservam uma coerência espacial que o tempo, generosamente, confirmou como acerto. O traçado é legível, as ruas têm continuidade, e a experiência do pedestre ainda é possível.É o que chamamos de diversidade organizada: a mistura entre usos e tempos que faz o bairro pulsar mesmo sem precisar de estímulo. É a cidade funcionando sem espetáculo, apenas pela harmonia entre forma e comportamento.


O contraste com outras áreas de Natal é inevitável. A Ribeira, antes cheia de significados, hoje busca reencontrar propósito; o Alecrim, em sua desordem criativa, ainda mantém vitalidade, mas carece de estrutura; as zonas mais novas, marcadas por condomínios voltados para dentro, ainda ensaiam maneiras de reconectar-se ao espaço público. Tudo o que Jane Jacobs apontou como sintomas da “morte das cidades”, a segregação de usos, a homogeneidade funcional, o isolamento do pedestre, reaparece em escala tropical. O urbanismo da pressa fez da cidade um território de desconexões.  Mas o eixo Tirol - Petrópolis, com ênfase nas Avenidas nas quais hoje focamos este ensaio, continua mostrando que é possível crescer sem perder o corpo.


O que acontece nessas ruas não é apenas urbanismo, é cultura


E embora este seja apenas um fragmento observado sob o viés de quem desenvolve - consciente de que há muito além da amostragem - é justamente nesse recorte que se revela o essencial.


Porque compreender o pequeno trecho é, também, compreender a lógica maior que o contém.



Leandro Matias, CEO It Homes

Empresário e consultor, Leandro é administrador de empresas, bacharel em direito, especialista em marketing, técnico em transações imobiliárias e pós-graduando em desenvolvimento urbano estratégico pelo Instituto Cidades Responsivas. Há 18 anos trabalha com comunicação, customer experience e inteligência de mercado para solucionar desafios em percepção de marcas, negócios e produtos imobiliários.




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