O edifício como manifesto: o gesto urbano de cada lançamento.

Todo edifício, ao surgir na paisagem urbana, diz algo sobre a cidade em que se insere e, sobretudo, sobre aquilo que essa cidade deseja ser. É ao mesmo tempo resposta e proposta, produto e provocação, reflexo de um presente e esboço de um amanhã.

Essa dimensão simbólica da construção civil, ainda que nem sempre assumida, tem ganhado relevância em um contexto urbano marcado por transformações rápidas, mudanças no modo de vida e crescente necessidade de reconexão entre o projeto e o lugar. Quando um novo edifício ocupa um lote vazio, reposiciona um quarteirão ou propõe um tipo de habitar ainda não presente em determinada região, ele não impacta apenas seus moradores. Impacta a narrativa do bairro, o imaginário da cidade, a expectativa do entorno.

É possível que parte desse poder derive do fato de que a arquitetura, mesmo quando silenciosa, se impõe ao cotidiano. Ela é presença inevitável; molda caminhos, vistas, sombras, rotinas. Um edifício não apenas está; ele participa. E quando esse edifício é fruto de um lançamento cuidadosamente concebido, que une boa arquitetura, curadoria de uso, atenção ao solo e ao céu, então sua presença pode transcender a lógica do mercado e tocar o campo mais delicado da cidade: o da identidade.

Não se trata, é claro, de exigir que cada novo projeto resolva os desafios urbanos ou se assuma como gesto redentor. Mas talvez caiba reconhecer que, no acúmulo das pequenas decisões – na escala do lote, no cuidado com a fachada, na relação com a rua, na transparência do térreo, no uso das áreas comuns – forma-se uma gramática urbana que comunica valores. E esses valores são percebidos, ainda que intuitivamente, por quem passa, por quem mora, por quem imagina o que poderia estar ali.

Diversos exemplos, em contextos distintos, sugerem como a arquitetura pode participar de processos de ressignificação urbana. Pelo Brasil e mundo afora, são muitas as iniciativas pontuais onde a arquitetura residencial autoral, mesmo em pequenos edifícios – quando bem implantados e abertos ao entorno – enriquecem a paisagem cotidiana e geram novos vínculos de afeto com a cidade.

Essas experiências não são receitas, tampouco isentas de contradições. Mas ajudam a pensar que vender um imóvel pode, sim, ser também um gesto de edição da cidade; e que lançar um empreendimento é, de certo modo, lançar também uma ideia de como viver nela. A linguagem gráfica, o nome do projeto, a escolha dos materiais, o modo como se comunicam os diferenciais – tudo isso comunica mais do que atributos comerciais. Comunica visão, ou a ausência dela.

Quando um lançamento imobiliário leva em conta o contexto urbano em que se insere, reconhecendo suas qualidades, lacunas, tensões e potencialidades, ele amplia sua potência de influência. Torna-se, além de produto, um agente de projeto coletivo. Um sinal, ainda que sutil, de que é possível fazer cidade com mais intencionalidade, mais escuta e mais presença. Isso não exige gestos monumentais, mas exige, talvez, um pouco mais de cuidado, de autoria e de consciência do que se coloca no mundo.

A cidade está em permanente reescrita, e os edifícios são seus parágrafos mais duradouros. Cabe a cada lançamento decidir se será apenas mais um bloco de concreto na paisagem ou uma frase com algo a dizer.

Leandro Matias, CEO It Homes

Empresário e consultor, Leandro é administrador de empresas, bacharel em direito, especialista em marketing, técnico em transações imobiliárias e pós-graduando em desenvolvimento urbano estratégico pelo Instituto Cidades Responsivas. Há 18 anos trabalha com comunicação, customer experience e inteligência de mercado para solucionar desafios em percepção de marcas, negócios e produtos imobiliários.